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Convivendo com o climatério

menopausa nada mais é que o primeiro aniversário da última menstruação. É considerada transição natural na vida da mulher a partir dos 40 anos, porém a idade média é aos 51 anos de idade. Nesta fase, os ovários param de produzir os hormônios femininos estrogênio e progesterona. Para grande parte das mulheres, este evento não é tão pontual. Inúmeras mudanças vão acontecendo em um período de alguns anos antes a alguns anos após a última menstruação, o período chamado climatério.

Uma das primeiras manifestações é a irregularidade menstrual, porém algumas mulheres experimentam outros sintomas, como distúrbios do sono, alterações de humor e ondas de calor. Mas o que fazer quando tudo isto surge no período mais produtivo da vida da mulher? É normal passar por tudo isto? Como é possível manter a qualidade de vida?

Quais são os sintomas e como tratá-los?

Irregularidade menstrual: Um dos primeiros sintomas do climatério é a irregularidade menstrual. Os ciclos tornam-se imprevisíveis, podendo durar desde 15 dias a 3 meses, até a parada por completo da menstruação. Esta irregularidade muitas vezes é acompanhada de sangramento intenso, podendo levar a quadro de anemia. Isto ocorre quando a ovulação já não acontece todo mês, com consequente irregularidade na produção de progesterona. O tratamento consiste em repor a progesterona, que pode ser por comprimidos ou sistema de liberação intra-uterino.

Ondas de calor: As ondas de calor, também conhecidas como sintomas vasomotores, podem acometer até 75% das mulheres no climatério. Entretanto, a intensidade dos sintomas é extremamente variável. Algumas mulheres se queixam de fortes ondas de calor, associadas a sudorese profusa, palpitação e ansiedade. Costumam ter duração de dois a quatro minutos e podem acontecer diversas vezes em um dia, mas ocorrem com maior frequência à noite. Por outro lado, há mulheres que referem apenas leve sensação de calor, que não atrapalha as suas atividades ou seu sono. A primeira orientação para as mulheres com estas queixas é buscar amenizar a temperatura com ventiladores, ar-condicionado, água gelada, e similares. Vestir-se em camadas auxilia a mulher a tolerar as mudanças bruscas de temperatura. Alimentos como soja e inhame também auxiliam no controle hormonal. Medicamentos fitoterápicos podem ser administrados em casos mais resistentes.

Insônia e irritabilidade: As ondas de calor podem contribuir para a queixa de insônia, principalmente nas primeiras quatro horas de sono. Em muitos casos, a redução da temperatura do quarto pode ser suficiente. Entretanto, há mulheres que não sofrem de ondas de calor e queixam-se de insônia. É importante ter atenção para outros sintomas associados, como irritação, ansiedade e depressão. Estes sintomas são comuns a muitas mulheres que experimentam esta nova fase da vida, com alterações no corpo, dúvidas sobre a saúde e sobre o futuro. É extremamente importante reconhecer sinais que atrapalham o cotidiano e buscar ajuda. Estabelecer uma rotina diária, com atividade física regular, horário para acordar e dormir, independentemente de fim de semana ajuda a regular o relógio biológico. Para garantir o bom sono é recomendado evitar estímulos no fim do dia, como atividade física e cafeína, e utilizar a cama apenas para namorar e dormir. Nada de televisão até de madrugada.

Secura vaginal: Assim como a pele do corpo, a mucosa da vagina também responde à queda dos níveis hormonais. As principais queixas são secura, coceira ou até desconforto durante a relação sexual. Algumas mulheres podem ter sensação de irritação ao urinar, que pode até ser confundida com infecção de urina. O diagnóstico é feito no exame físico e o tratamento é simples. Cremes ou óvulos vaginais contendo estrogênio podem agir na região, restabelecendo o bem-estar local, sem necessariamente cair na corrente sanguínea e, portanto, com mínimos efeitos colaterais.

Disfunção sexual: A principal causa da disfunção sexual em mulheres nesta fase são o ressecamento vaginal e a consequente falta de lubrificação, que promove dor durante o ato sexual. A reposição local de estrogênio pode ser suficiente para grande parte das mulheres, entretanto a queda dos níveis hormonais também pode atuar sobre a libido, a vontade de namorar. É importante lembrar que o desejo feminino não é regulado apenas por hormônios, mas também pelas emoções. Estimular o diálogo com o parceiro é fundamental. É importante, também, perceber preocupações, ansiedade, insônia ou tristeza, que possam prejudicar não apenas o relacionamento do casal, como a qualidade de vida como um todo.

Dores articulares: A prevalência das dores articulares é desconhecida e muitas vezes a causa pode estar associada a outras condições, como excesso de peso, doença reumática, distúrbios posturais, entre outros. Muitas mulheres encontram alívio dos sintomas com a perda de peso e a atividade física regular de baixo impacto, como caminhadas, natação, hidroginástica, ioga ou pilates. A perda de peso, associada à atividade física regular, irá combater muitos dos sintomas discutidos acima, como as ondas de calor, a insônia e até a disfunção sexual, portanto deve ser uma das primeiras metas.

Dores de cabeça: As oscilações hormonais características deste período podem desencadear, em mulheres susceptíveis, fortes crises de enxaqueca. Podem ser dores na metade ou em toda a cabeça, de caráter pulsátil, associadas a enjoo e vômitos, que pioram com a luz e o som. Alimentos ricos em xantinas, como café, chá preto e chocolate podem desencadear as crises e devem ser evitados, assim como o álcool, o tabagismo e a privação de sono. Casos refratários podem sem tratados com antidepressivos com potencial de bloquear enxaqueca.

Perda óssea: A perda óssea inicia-se no climatério, antes mesmo da menopausa, decorrente da queda do estrogênio. É mais comum em mulheres magras, brancas ou de ascendência oriental, tabagistas ou etilistas, usuárias de corticoides ou com história familiar de osteoporose. Medidas comportamentais podem evitar a perda óssea acentuada e a osteoporose. A alimentação deve ser rica em cálcio, mineral disponível em leite e derivados, vegetais verde-escuros e soja. A exposição ao sol, sem a interposição de vidros ou filtro solar, por 10 a 15 minutos diários, em horários seguros como início da manhã ou fim de tarde, auxilia na produção de vitamina D. A atividade física regular, por pelo menos 30 minutos três vezes por semana, como caminhada ou musculação, promove não apenas aumento da densidade óssea, como também da força muscular, prevenindo assim quedas e fraturas. Por fim, é fundamental a parada do tabagismo e do consumo excessivo de álcool. Ainda assim, muitas mulheres irão precisar repor cálcio e vitamina D por meio de medicamentos. Aquelas que desenvolverem ou tiverem alto risco de desenvolver osteoporose precisarão de tratamento com medicamentos que aumentem a massa óssea.

Doença cardiovascular: A queda dos estrogênios naturais foi associada ao aumento do risco cardiovascular. Desta forma, é fundamental cuidar da saúde como um todo, dando prioridade para alimentação saudável e atividade física regular. A avaliação da pressão arterial, glicemia e colesterol, entre outros fatores de risco, torna-se obrigatória neste período. As mulheres podem ter infarto do miocárdio ou acidente vascular cerebral com poucos sintomas ou sintomas atípicos, o que acaba tornando o diagnóstico mais difícil. Assim, a prevenção deve ser a principal arma para combater a doença cardiovascular em mulheres.

Devo fazer reposição hormonal?

A terapia de reposição hormonal consiste em repor o estrogênio à corrente sanguínea. Existem medicamentos em forma de comprimidos, adesivos, creme vaginal ou gel para aplicar na pele. Entretanto, grande parte das mulheres não têm necessidade de fazer a reposição hormonal. A grande maioria das queixas pode ser tratada com as medidas acima descritas, com melhora importante da qualidade de vida.

Algumas queixas, por outro lado, não respondem às mudanças no estilo de vida e algumas mulheres, principalmente aquelas que sofrem de fortes ondas de calor, irão recorrer à terapia de reposição hormonal. É importante decidir, em conjunto com o ginecologista, qual o melhor tratamento, a dosagem, a via de administração e o tempo de duração. Em caso de mulheres com alto risco para câncer de mama, trombose, doenças hepáticas ou renais, estes medicamentos não devem ser administrados.

É importante ter em mente que todos os sintomas têm a tendência de melhorar, com o passar do tempo. Desta forma, a mulher deve considerar o período de climatério como um período de transição. Mas não deve permitir que quaisquer sintomas atrapalhem este período de vida tão produtivo.