Os processos de reparação da pele estão alterados no paciente diabético devido a diversos fatores: a predisposição dos diabéticos a aterosclerose e insuficiência renal; a predisposição à neuropatia periférica e a resposta deficiente às infecções. É sabido também que o controle deficiente da glicemia contribui para a piora da cicatrização nestes pacientes.
Uma vez estabelecida, a ferida normalmente permanece aberta por períodos prolongados caso não haja intervenção adequada. Há risco aumentado de infecção, devido à inabilidade do diabético em controlar a colonização bacteriana local. Obviamente este quadro, se não controlado levará a um círculo vicioso que evoluirá fatalmente para a amputação. Desta forma, a intervenção precoce é indispensável para o sucesso do tratamento.
Na primeira avaliação de um paciente diabético com feridas, é necessário o estabelecimento de um plano de tratamento bem definido. Para tanto são necessários uma história e exame físico adequados, com especial atenção às situações sabidamente complicadoras no Diabetes Mellitus (doença cardíaca, doença dos rins, doenças dos vasos); além é claro, do próprio controle adequado dos níveis de açúcar no sangue. A avaliação do estado nutricional do paciente também é importante.
Desta maneira, é fundamental o envolvimento de uma equipe multidisciplinar que avalie o paciente sob os diversos enfoques necessários para o bom andamento do caso: controle clínico adequado do Diabetes Mellitus, avaliação adequada da circulação sanguínea, avaliação adequada dos nervos e finalmente avaliação das eventuais alterações estruturais (ortopédicas) estabelecidas.
O tratamento das feridas nos pacientes diabéticos começa com a prevenção. O controle da hiperglicemia é essencial assim como a realização de inspeções diárias nos pés, cuidado no momento de cortar as unhas e uso de calçados adequados.
Em casos com suspeita de infecção, devemos sempre considerar a situação como de risco para a perda do membro, sendo, portanto, uma emergência médica.
O uso da terapia sob pressão negativa (curativo a vácuo) como preparo para o tratamento cirúrgico definitivo é hoje em dia um dos mais eficazes. O mecanismo de ação da terapia sob pressão negativa incluem a melhora da perfusão tecidual local, a remoção de excesso de fluido, aumento do tecido de granulação e manutenção da homeostase da ferida. Consideramos de fundamental importância reforçar que o uso da terapia deve ser encarada, na maior parte das vezes, como um passo intermediário para o fechamento da ferida, que será realizado com o uso de enxertos ou retalhos.
O método escolhido para a reconstrução dependerá de fatores como a experiência do cirurgião, o tamanho do defeito, o status vascular do pé e as estruturas perdidas e/ou expostas (tendões, articulações, osso).